18 março 2006

... Morte ... [quando saberemos viver com ela!?!]

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Ficarás sempre em mim, no cantinho onde sempre estiveste... porque não se ganha um Tio aos 4 meses, num avião a caminho de uma guerra em Moçambique, sem que fique cá dentro o resto da vida...
Pá, eu sei que tu sabes, pá, que gosto muito de ti, pá...
**************************************** Atropelamento mortal



"Nalgum oásis do princípio ele fora
um fugitivo brilho no olhar de Deus
-a vida havia de lho lembrar muitas vezes.


Atravessou as nossas ruas entre gatos,
a chuva molhou-lhe as pobres botas cambadas.
Teve um banco de jardim, teve amigos, um deles o sol.
Sempre sem o saber procurou Deus.
Um dia foi campos fora atrás dele, perdeu o emprego
na Câmara Municipal. Teve mãe mas depois
nunca mais foi solução para ninguém.


Naquele dia a morte instalou-o
confortavelmente no céu. Lá se foi
com seus modos humanos, seus caprichos
e um notório acanhamento em público
(há-de a princípio faltar-lhe à-vontade entre os anjos).


Tinha o nome no registo, agora habita
nas planícies ilimitadas de Deus.
Nas suas costas ainda se derrama
a tarde interrompida.
Manhãs e manhãs desfilarão sobre ele,
caracóis cobrirão a memória daquele
que foi da sua infância como qualquer de nós.


Teve um nome de aqui, andou de boca em boca,
agora é Deus que para sempre o tem na voz."

Ruy Belo

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