01 fevereiro 2006

Um Monitor


Alberto estava sentado frente ao monitor há horas, sem que um só movimento acontecesse no seu corpo. O som que se ouvia repetia-se infinitamente, sem que se notasse um sinal de cansaço na voz da cantora, ou quem a ouvia.
Da rua, vinha o barulho da chuva e o que parecia o som de dois veículos que embateram violentamente, seguido de gritos de diferentes pessoas.
Alberto continuava imóvel, como se de nada se apercebesse, e o mundo à sua volta não existisse. Nem o som da trovoada que de repente surgira, ou a falta de electricidade que entretanto acontecera, provocaram a mínima reacção.
Horas se passaram e Alberto permanecia recostado na sua cadeira frente ao monitor... até que se ouve o som da chave na fechadura e a porta a bater. Alguém se aproxima e diz:
- Então, estás vivo?
Repara numa folha saída da impressora, e lê:
Chova ou faça Sol
Os dias e noites
sinto-os sempre cinzentos
ou negros
Estou cansado
de estar sentado à espera
sem que alguém
se importe
se estou vivo
Alberto escolhera um dia igual a qualquer outro para se sentar frente ao monitor e, simplesmente, escolher morrer.


25 Outubro 2001 22.50h

Sem comentários: