14 julho 2010

Um Copo

Os seus passos destoavam naqueles corredores largos, compridos e luzidios. Por vezes apressados, por vezes hesitantes, os seus pés moviam-se sem sentido aparente, deambulando num espaço que se entendia ser-lhe simultaneamente familiar e distante. O seu rosto nunca se cruzava com a sua imagem projectada nos vidros das montras que lhe eram indiferentes, recusando-se a identificar alguma semelhança no seu reflexo. Por vezes parecia olhar, como que procurando algo em concreto, sem que conseguisse situar a sua localização.

Todos os que se cruzavam consigo pareciam querer ignorar a sua presença sem contudo conseguirem disfarçar a sua curiosidade e o seu espanto.

Repentinamente os seus passos parecem assumir firmeza e decisão. Dirige-se a um local onde o som da música e das vozes lhe transmite bem-estar. Senta-se num banco alto, olha-se no reflexo dos vidros e sorri. Alguém se aproxima, e colocando-lhe então na mesa um copo e uma garrafa com elefantes cor-de-rosa que parecem sorrir-lhe, diz:

- Boa noite… como está? Aqui tem o de sempre… Delirium Tremens!


(Julho 2002)






Tirana - GNR


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